Mulheres de todas as cores e idades e a infelicidade de uma relação tóxica.
Já fui a Manu, Manueeela, Tia Manu, Mãmanu (meu filho misturava meu nome com mamãe), hoje já me chamam até de Dona Manuela, mas tudo bem, já aceitei meus quase 40 anos e os novos cabelos brancos.
Foi nessa fase da minha vida, com quase 40 anos e muita bagagem, que me vi em um relacionamento tóxico e destrutivo. Hoje, que estou me reconstruindo para ser a Manuela novamente, decidi contar minha história, acho que devo isso a todas as mulheres que viveram um relacionamento abusivo e não tiveram a chance de gritar o quanto isso é nocivo, também quis escrever para de alguma forma proteger o futuro de outras mulheres, mas talvez seja só um desabafo ou todos esses motivos juntos.
Tinha uns 2 anos que havia terminado o meu primeiro casamento, não foi um término pesado, a gente só percebeu que queríamos coisas diferentes para nossas vidas e pronto. Cada um para o seu lado, mas com um elo lindo de 10 anos, nosso filho João, que ficou morando comigo. Esse foi o contexto que conheci o Ronaldo, estava com os meus 35 anos, administrando a floricultura que sempre quis abrir e ainda tinha tempo para uma vida social bem divertida.
O Ronaldo era um cara bem atencioso, engraçado, conversávamos sobre tudo, logo ele se inseriu no meu ciclo de amigos, conquistou a mim e a meu filho, 5 meses depois estávamos namorando. Tínhamos um relacionamento bom, saíamos para festas, ele passava o domingo comigo e o João, continuava sendo atencioso e cada vez mais presente na minha vida, estávamos perto de completar 1 ano e meio de namoro, quando começaram os primeiros sinais de que algo estava errado.
Comentários sobre as roupas que eu usava, até esses pequenos palpites virarem proibições. Uma preocupação com a minha segurança e integridade, que logo evoluiu para um ciúme doentio de não poder ir sozinha à padaria porque algum engraçadinho mexeria comigo. Conselhos sobre meu ciclo de amigos, mentiras da parte dele, algumas brigas com as minhas melhores amigas e finalmente o afastamento de todos, e uma sensação horrível de nunca ter ficado tão desamparada.
Eu me sentia péssima, uma mulher sem rede de apoio, sem ninguém para desabafar, sem autoestima e prisioneira dentro da minha própria casa. Nessa época já estávamos morando juntos, o João também estava com a gente, tenho uma dor enorme até hoje quando penso no meu filho, não conseguia mais ser a mãe atenciosa e alegre que tinha sido antes de viver esse inferno, até o meu João foi ficando introspectivo, se afastando cada dia mais até o ponto de pedir para morar com o pai, esse foi o golpe que faltava para acabar comigo.
Sabia que continuando nessa relação tóxica acabaria definhando cada dia um pouco mais, até não sobrar nada de mim, precisava fazer algo. Mas tive que chegar no fundo do poço para reuni minhas forças e tomar a atitude que salvou a minha vida. Fugi da minha própria casa, com hematomas em todo o corpo, procurei uma das poucas amigas que ainda mantinha um certo contato, ela foi meu anjo, me acompanhou à delegacia para prestar queixa, o desgraçado do Ronaldo chegou bêbado e me espancou, me deixou largada no chão da sala e foi para o quarto dormir como se nada tivesse acontecido. Nesse momento, toda ensanguentada, juntei o resto da Manuela que um dia fui e fugi para salvar minha vida.
Hoje passados 6 meses estou lutando para reconstruir uma nova Manuela, muita coisa ainda dói, estou recuperando amigos, autoestima e o amor do meu filho. O patife do Ronaldo está na cadeia e eu rezo para que nunca mais o veja, mas se ele ousar se aproximar não hesitarei em denunciá-lo novamente.
Estou seguindo a minha vida, voltando a respirar e me permitindo viver pequenas felicidades, eu não sei que fase da vida você está, se já viveu muitos relacionamentos, se está no primeiro, se é uma mulher de 18 ou 50 anos, não importa. O que quero dizer para você é que coloque sua saúde mental, física e emocional em primeiro lugar, ouça as histórias de outras mulheres, analise o relacionamento que você está ou quer estar, veja se você se sente confortável e feliz com ele. E se não se sentir, não ignore os sinais, pule desse barco furado e volte para margem nadando livre e feliz.