
Ler livros e conhecer pessoas virou démodé
Livros são feitos de ideias, teorias, sentimentos que se materializam em palavras, que formam frases e logo um discurso e mais um capítulo, que nasceu com o propósito de ser propagado, livros são feitos para serem lidos.
Pessoas são feitas de histórias, cicatrizes e curas, somos feitos de retalhos, pedaços, temos diversas faces e fases. De alguma maneira todos sabemos disso, mas há gente, muita gente na verdade, pessoas como eu e você, talvez até sejamos eu e você mesmo, os entendedores do mundo que ficam julgando o outro só pela capa, ou melhor, cara.
Fulano é ranzinza, sicrano é louco, beltrano é um coitado. Rótulos são produzidos, pessoas catalogadas e logo o ser humano é reduzido a um único adjetivo. Esse tem cara de pobre, essa tem cara de rica, esse tem cara de marginal é bandido e está na condicional. Foda-se o histórico, a bagagem de vida. A cara, a roupa e a cor da pele definem o que não deveriam definir, têm mais peso que as ações, o discurso, as crenças e os valores que cada pessoa carrega e propaga para o mundo.
“A cara, a roupa e a cor da pele definem o que não deveriam definir”
Veja bem, é mais fácil parar e julgar, do quer conversar e conhecer. A segunda opção leva tempo, e nós estamos sem tempo para isso. Preferimos os resumos aos livros, e sempre que possível, pegamos atalhos emocionais para não se “apegar” a ninguém. Fugimos de relações profundas, queremos águas rasas para não ser preciso aprender a nadar, tomamos gosto por leituras breves e claras, que não nos façam pensar muito, menos ainda questionar qualquer coisa.
Estamos sem tempo, vivendo tempos difíceis, em que pessoas e livros se tornaram complexas demais para serem apreciadas com o valor que elas têm. Um medo futuro é que diminuam o número de páginas dos livros, que ninguém mais leia os clássicos, as pessoas não conversem e todo mundo seja reduzido a capas, até não sobrar mais nada da gente.
Nota que inspirou esse texto

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