E se a vida fosse um jogo, em que fase você estaria?
Talvez você esteja na fase da empolgação com todo gás para fazer acontecer, seja lá o que for. Talvez você já esteja na fase mais lenta, aproveitando as conquistas e economizando energia. Tem diferença entre as “fases da vida” registradas numa espécie de contrato social, e as nossas verdadeiras fases.
Dizem que na fase dos 30 a gente se depara com a crise do “TRÊS DÉCADAS vividas! Como cheguei até aqui?!”. Se isso é verdade, eu ainda não sei, ou melhor, não cheguei. Espero conseguir passar por ela do melhor jeito que der, talvez a crise nem venha, e a preparação para ela seja em vão.
A real é que você vai viver os 30, ou já viveu, diferente da forma que eu vou passar. A gente pode até ter algo em comum, umas neuras, umas descobertas, mas as nossas experiências serão individuais e destoarão uma das outras, porque meu repertório de vida é outro, diferente do seu.
Podemos compartilhar muita coisa das nossas fases, e isso é bom, ajuda a gente a se reconhecer e saber que o sentimento de desconforto, tristeza ou alegria, é algo comum e conhecido por muitos. Nos sentimos mais tranquilos e acolhidos só por saber disso.
Se reconhecer na narrativa do outro, não quer dizer que você seja aquele outro. Você vai descobrir o seu melhor jeito de viver cada uma das fases da sua vida. “Ah mas fulana viveu a fase do puerpério tão bem, por que eu estou tão cansada?”, “e o beltrano chegou aos 40 com uma disposição, por que eu não tenho saco para mais nada?”. É porque fulana e beltrano não são você, nem eu. E como eles estão vivendo cada fase é o resultado de fatores bem mais complexas do que um simples “eu quero ser assim”. O repertório, a personalidade, os recursos financeiros, a genética, tudo conta, e muito provavelmente não teremos os mesmos cenários.
A gente fala de fases, parecendo que tem a fase certa para tudo, a fase para deixar o cabelo curto, perto dos 40, a fase de casar, tem que ser até os 35. A fase para namoro, a fase de sossegar. Ditamos regras para as fases, mas a vida faz questão de desprezar elas. Tem gente namorando aos 50, casando aos 22, começando uma faculdade aos 40 e outros absurdos que os ditadores de regras passariam mal só de pensar na possibilidade.
Se formos nos apegar as regras, deixaríamos de viver muita coisa, por causa daquele pensamento do “eu já passei dessa fase”, carregado pelos sentimentos de desdém ou de pesar. Há aqueles que olham e se sentem superiores, porque viveram aquela experiência quando mais novos, e pensam que estão em um nível mais elevado. E os que falam com pesar de ter se restringido de muita coisa, e agora seguem o contrato social, se confortam no pensamento de que o tempo deles já passou, aquela experiência não é permitida na fase atual, seja pela idade, estado civil, status social, ou qualquer outro impeditivo miúdo inventado por quem gosta de colocar regra para a felicidade alheia.
O que esses dois grupos têm em comum? Aquele sentimento de aqui não me cabe, enquanto um está mergulhado na soberba, o outro está mergulhado no saudosismo com uma mistura de arrependimento.
Uma certeza que temos é que esse jogo acaba, um dia todos vamos mudar de fase, talvez cheguemos em outro plano. Mas a vida é um jogo que termina por aqui mesmo, felizes são aqueles que entendem a estratégia de viver cada fase, e não sobreviver a cada uma delas. Sei que tem aquelas bem difíceis, que a gente só tenta sobreviver um dia de cada vez. Para quem está passando por ela, lembra que é uma fase, ela passa e você fica. Talvez com menos energia, mas com muito mais experiência e aprendizados nesse jogo de altos e baixos chamado vida.
Nota que inspirou esse texto:
Foto destaque: Foto de Ylanite Koppens no Pexels